4 min • 23/08/2023
A experiência de perder alguém próximo e amado já é algo desorganizador. Quando acrescentam-se elementos como: não ter podido cuidar da pessoa durante o adoecimento, não ter podido estar ao lado da pessoa na hora da morte, existência de um componente a mais de tabu em torno da doença, não ter podido fazer o velório, não ter podido estar com familiares e amigos nesta hora delicada, a experiência se torna ainda mais dolorida, solitária e com sensação de impotência.
Velórios estão limitados no tempo de duração e no número de pessoas presentes, e então surgiu a necessidade urgente de desenvolver uma possibilidade de ritualizar e dar significado ao que estão enfrentando, amparando familiares e amigos das vítimas.
O uso de tecnologias se tornou imprescindível e estratégias remotas de despedidas passaram a ser postas em prática.
Outra possibilidade de estar junto ao seu familiar internado, ainda que fisicamente distante, é escrever uma carta, embalada em saco plástico, ou fazer uma gravação de vídeo que possam ser entregues por profissionais de saúde.
Caso seu familiar ou amigo esteja doente e isolado em casa, envie-lhe cartões, livros de assuntos que você saiba que ele goste, comidinhas gostosas… qualquer demonstração de afeto que deixe claro que você pensou nele irá aquecer o coração e o fará se sentir amado e menos solitário.
Também existem os casos de falecimento. O velório restrito torna-se um ritual íntimo e pode ser vivenciado como um espaço especial de acolhimento para falar de quem se foi, lembrar histórias, cantar canções, ler textos, agradecer pela vida.
Pensando em amenizar o sofrimento das pessoas contribuindo para a assimilação e elaboração do ocorrido, trazendo algum conforto e possibilitando trocas afetivas, o Programa de Apoio ao Luto da Angelus criou um cerimonial especial em homenagem aos falecidos com suspeita ou confirmação de Covid 19. Esta cerimônia é realizada para um número reduzido de pessoas presentes, mas tem transmissão ao vivo num link privado no youtube, o que possibilita a interação através de comentários e mensagens das pessoas que assistem de casa.
Para a cerimônia, é feito um vídeo de homenagem personalizado com fotos, música escolhida pela família e mensagens escritas. A família tem um momento reservado para compartilhar memórias e fazer sua homenagem e existe também um momento especial em que a família pode ter a presença de um religioso.
Mesmo depois, é possível que de iniciativa própria a família crie em casa um memorial com fotos, vela acesa, assim como é possível também reservar um tempo para olhar fotos, relembrar histórias, escrever um depoimento e compartilhar isso com outras pessoas.
No caso de crianças e adolescentes enlutados, não os exclua dos rituais e não siga com a vida como se nada tivesse acontecido. Muitas vezes isso é feito na boa intenção de preservar a criança, mas não falar sobre o ocorrido, ao invés de poupar sofrimento, irá criar uma sensação de exclusão, solidão e transmitirá a mensagem de que expressar o que se sente é impossível ou que ninguém será capaz de ajudá-los.
Para o caso de a criança não poder ir ao ritual ou sepultamento, dê-lhe a possibilidade de escrever uma carta, ou fazer um desenho e leve isto à sepultura.
Converse com as crianças sobre o ocorrido e crie formas para que elas possam participar da despedida dando condições para que elas expressem o que sentem e façam perguntas. Responda aos questionamentos delas com honestidade. Você não precisa esconder o que sente. Pode chorar, porque assim elas saberão que também podem chorar.
Não abra mão de viver o seu luto com o apoio de amigos a familiares. Compartilhe suas memórias, faça homenagens e conte com a ajuda de um profissional especializado em luto, caso sinta necessidade.