4 min • 07/03/2019
O processo de luto da criança é diferente e costuma assustar. É difícil lidar com um adulto em sofrimento, mas as pessoas tendem a se sentir ainda mais desamparadas frente ao sofrimento de uma criança que perdeu a mãe, o pai, o irmãozinho, a avó carinhosa ou o tio divertido, por exemplo.
Quanto menor a criança, menor o número de recursos que ela possui para lidar com a dor e mais dificuldade ela terá para compreender que a morte é irreversível. Contudo, não há como enganar a criança em luto.
Mesmo que pequena, a criança percebe o que está acontecendo pela mudança no clima, expressão dos outros e principalmente pela falta do ente querido. Isso pode levar a criança a pensar que o ente se foi porque ela se comportou mal.
Por isso, a criança tem tendência a se sentir culpada. É preciso ser transparente e dizer a verdade. Assim, a criança pode passar pelo processo de luto com a ajuda da família evitando que ela sofra em silêncio. Deve-se acreditar na força interna que a criança possui.
A morte nos deixa atordoados e muitas vezes se tenta poupar a criança dessa realidade. Contudo, a realidade permite que a criança lide com a perda sem fantasiar devido a falta de informação adequada. As informações devem ser claras e sem exagero:
Dizer a verdade é a melhor saída
Dizer que a pessoa está dormindo pode acarretar na criança um medo de dormir e nunca mais acordar; falar que a pessoa está viajando não fará com que a criança compreenda o caráter irreversível dessa “viagem” e ela se sentirá abandonada; contar que “Papai do Céu” levou a pessoa para perto dele pode fazer com que a criança associe a imagem de Deus ao egoísmo e dizer que a pessoa virou “estrelinha” simplesmente não é verdade.
A notícia deve ser dada em um local tranquilo e por alguém de confiança. É preciso dizer que a pessoa morreu e que todos estão tristes com isso. Além disso, deve-se reforçar que o ente querido não vai voltar e que ele não se foi porque quis.
Para que todos os familiares falem a mesma linguagem é possível combinar o que será dito. Ainda, deixe a criança fazer todas as perguntas que quiser e as responda com honestidade. Ao dar a notícia, é importante se manter próximo e confortá-la.
É possível que a criança não tenha reação ou apresente uma reação “inapropriada”. Paciência é a resposta, pois se reconhece as limitações e a capacidade da criança compreender o que está acontecendo. Permita que a criança experimente a dor em seu próprio ritmo. Ao adulto se ausentar, a criança deve estar na companhia de um cuidador afetuoso.
A criança deve participar do funeral
No processo de luto da criança, é importante prepará-la antes, explicando sobre o que a criança irá encontrar e estar disponível para responder perguntas sobre velório, urna, enterro, entre outros. Normalmente, evita-se levar a criança à abertura da sala velatória e ao fechamento da urna para preservá-la do impacto frente a possíveis reações de desespero dos adultos.
A criança deve estar acompanhada de alguém da confiança dela segurando-a no colo ou pela mão para que se sinta mais segura. Não se deve a forçar a nada: ela não precisa chegar perto da urna e nem beijar o falecido se ela não quiser.
Mantenha a rotina da criança
Evite mais mudanças caso seja possível: este não é o melhor momento para trocar de escola ou mudar de casa. É normal que a criança demonstre tristeza, saudades e recordações persistentes com a pessoa falecida ou ainda que se mostre hiperativa, irritada e impaciente. Então, por conta desses sentimentos, a queda no desempenho escolar já é esperada.
Escute-a quando quiser falar de suas lembranças e sentimentos e não tente substituir a pessoa falecida, pois cada pessoa é única. Dando atenção e acolhimento, busque ajudar a criança a enfrentar e compreender a perda.
No entanto, é preciso tomar cuidado para não superproteger e abolir limites. Os limites são necessários e transmitem segurança para as crianças. As crianças enlutadas precisam de carinho, respeito a seus sentimentos, acolhimento e compreensão, mas dar tudo o que elas pedem e não dizer “não” ao invés de transmitir a ideia de amor, pode ser entendido como abandono.
Saber exatamente o que pode e não pode aumenta a sensação de segurança. A criança se sente desamparada diante da perda de alguém querido e tudo o que ela mais precisa agora é saber que tem alguém firme e forte para protegê-la, orientá-la e abraçá-la.
O processo de luto da criança não precisa ser algo solitário. Busque auxílio de um psicólogo se perceber reações intensas e persistentes como um cuidado excessivo com outras pessoas, auto-acusações, acidentes constantes (como se machucar e cair constantemente), queixas de problemas de saúde semelhantes ao do falecido, longo período de rejeição de alimentos e transtornos do sono.
Por isso, o Plano Angelus oferece o Projeto Apoio ao Luto que disponibiliza apoio psicológico – com psicoterapia individual e em grupo -, aos associados que passam por esse momento tão delicado.
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