4 min • 08/05/2020
A humanidade está vivendo uma crise sem precedentes. Mesmo que já tenhamos enfrentado pandemias e dificuldades, nunca passamos por uma situação como essa. É encarando a Pandemia Covid 19 como uma crise que propomos a vocês uma reflexão acerca do que será de nós depois dela.
Dessa forma, é preciso entender que sobre tudo é possível lançar um olhar positivo ou negativo. A pergunta: “O que eu aprendo com isso?” muda o olhar sobre esse momento de crise. Assim, além de eu considerar as perdas, que são reais, considero os ganhos, também reais.
O que aprendemos, portanto, com a pandemia?
- Somos vulneráveis
- Precisamos pensar mais no coletivo
- Posso sobreviver a situações extremas e posso me adaptar
- Tenho privilégios e preciso reconhecer e ser grata
- Tinha tantas coisas boas que nem sabia e só percebi depois de perder
- Preciso cuidar das minhas relações familiares
Que crise é essa?
A pandemia e quarentena nos fizeram, a contra gosto, conectar-nos com o mundo interior. É dentro que estamos trabalhando. De dentro de casa, junto de nossas famílias… e então problemas ignorados ficaram expostos. Essa “pausa” na vida como conhecíamos nos fez olhar para problemas antigos. Essa reflexão é útil e já nos modifica.
O que está em crise é uma visão de mundo materialista, individualista e acumulacionista de dominação e sucesso pessoal. Visão de felicidade como acúmulo de coisas e dinheiro é a fonte da desigualdade social e de destruição da natureza. Esta visão ignora a impermanência. A impermanência é o antídoto para mudar a visão de felicidade e dar um sentido coletivo.
A vida é cheia de surpresas e algumas surpresas nos desestabilizam, relacionamentos que se rompem, pessoas que partem, doenças, desemprego… O nosso luto neste momento é pela perda do mundo que conhecíamos e, olhando para essa crise como um processo de luto, percebo que já passamos pelo momento de não acreditar, pela tristeza e desânimo, desorganização e paralização e estamos neste momento tentando redescobrir uma forma funcional de sobreviver a este mundo.
É um processo de adaptação em que vamos oscilando entre melhora e piora, adaptação e desorganização, ou seja, não é um caminho ascendente e contínuo.
Sair da zona de conforto nos inquieta, mas só depois de sair da zona de conforto é que terei de me adaptar e então terei o ganho de ter me tornado mais flexível podendo então ir além.
Para pensarmos se é possível aprender algo num momento de crise, é importante reconhecermos o que caracteriza a crise. Podemos pensar na crise como um medo, uma condição e diversas outras possibilidades de caracterização. Porém, o que isso causa em nós?
Quando nos deparamos com o momento de crise, estamos nos deparando com a angústia. Assim, podemos pensar então que a angústia vem pela finitude (o fim de algo). Mas, afinal, o que é possível aprender com tudo isso?
O aprendizado é subjetivo, porque a crise e a angústia são vividas e sentidas de formas diferentes por cada pessoa. É nesse momento que temos a nossa aprendizagem na crise, porque a angústia gera a possibilidade de movimento, de atuação, de mudança; vem como uma possibilidade do ser. É pela angústia de uma crise que nos permitimos viver novas possibilidades.
Texto da Psicóloga Karina Marques em parceria com Luiz Cavalcanti. Baseado na live do Programa de Apoio ao Luto do dia 08/05/2020.