4 min • 20/10/2020
Algumas vezes as pessoas falham miseravelmente em sua capacidade empática e desvalorizam ou não reconhecem as razões para uma dor. Isso é o que chamamos de desamparo na dor. Essa atitude ocorre porque, infelizmente, nossa sociedade estabelece quais perdas são consideradas importantes.
Ocorrem situações em que um relacionamento não é valorizado socialmente e o enlutado não é aceito. Um exemplo seria a situação dos filhos que não aceitavam o novo relacionamento do pai e não querem incluir a viúva no ritual fúnebre ou a excluem de decisões importantes que deverão ser tomadas após este falecimento.
Por vezes, o próprio enlutado não consegue compreender sua dor. Imaginemos a possibilidade de a ex-mulher do falecido se entristecer com a morte do pai de seus filhos e chorar desesperadamente ao receber a notícia deste falecimento.
Agora imaginemos que esta mulher já está casada com outra pessoa. Numa situação como essa, é possível que tanto ela não compreenda suas reações como seu atual marido fique muito irritado com o sofrimento dela.
Outra questão que muitas vezes se apresenta é quando se nega à mãe o direito de enlutar-se pela perda de sua gestação no primeiro trimestre, alegando que deveria ter sido menos doloroso por ter sido no início ou que ela pode engravidar de novo. Não faz sentido, mas muitas mulheres passam pelo luto da perda gestacional de forma solitária porque ninguém quer ouví-las.
E o pai? Com que frequência nos compadecemos, autorizamos e falamos do sofrimento de um pai pela perda gestacional? Estamos, enquanto sociedade, sendo solidários ao luto do homem nesses casos?
O desamparo da dor acontece em várias esferas
Gostaria de chamar a atenção ainda para a dor de uma pessoa pela morte de seu animal de estimação, o pesar da mulher pela separação de um relacionamento abusivo, o sofrimento do médico que perdeu seu paciente, o desespero do genro diante da morte da sogra que era como uma mãe para ele.
Todos estes casos podem ser vistos como dores inválidas ou menores, mas não são. Precisamos ser mais empáticos com a dor do outro e também com a nossa dor. Não deveríamos impor regras para o amor e para a forma como se sofre com os rompimentos dos vínculos.
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