4 min • 03/04/2023
Autismo é um transtorno neurológico que afeta cerca de 2 milhões de pessoas somente no Brasil. A condição, que se manifesta principalmente na infância, causa dificuldades de comunicação e interação social, além de comportamentos repetitivos. Porém, ainda há pouco conhecimento entre a população sobre o autismo. É aí que entra a importância do Abril Azul.
Trata-se de uma campanha de conscientização com o objetivo de mobilizar a sociedade a entender melhor o transtorno e buscar meios de inclusão para pessoas com autismo. Ela funciona nos mesmos moldes de outros “meses coloridos”, como Setembro Amarelo e Fevereiro Roxo, que também são associados a condições específicas de saúde.
Durante o Abril Azul, são difundidas informações sobre o autismo para sensibilizar a população e alertá-la a respeito da necessidade de diagnóstico precoce. Assim como, promover ações que possam melhorar o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas com autismo e de suas famílias.
Portanto, o Abril Azul é um movimento extremamente relevante para quem possui o transtorno do espectro autista. A seguir, vamos te explicar a origem da campanha, responder questões importantes sobre o transtorno e mostrar qual é o caminho para lidar com o luto causado por seu diagnóstico.
Tenha uma excelente leitura!
O que é Abril Azul?
Fundamentalmente, o Abril Azul é uma campanha de conscientização criada em 2007 para dar mais visibilidade para o autismo, um transtorno de neurodesenvolvimento geralmente diagnosticado na infância que ainda é pouco compreendido pelas pessoas em geral.
O mês de abril foi o escolhido para a realização da campanha pela Organização das Nações Unidas (ONU). Da mesma forma que nos outros meses coloridos, a ideia é dar total foco para uma condição de saúde em específico para deixá-la em evidência na sociedade.
Só que, dessa vez, o movimento busca defender pautas para além do transtorno em si. Mais do que alertar sobre o quanto o diagnóstico precoce é essencial para um tratamento eficaz, a campanha trabalha na inclusão das pessoas com autismo.
Sobretudo, porque falta sensibilidade e sobra preconceito na população acerca do autismo. O que, entre outros motivos, é uma clara consequência da escassez de informações sobre o assunto. Assim, o Abril Azul também promove ações que melhorem o bem-estar e a qualidade da vida de pessoas com autismo e familiares.
Ao longo da campanha, por exemplo, há incentivos para criação de políticas públicas que garantam os direitos das pessoas com autismo e ofereçam suporte para sua inclusão escolar, social e profissional. Com isso, surgem cada vez mais soluções importantes para ajudá-las.
Quais são as possíveis causas do autismo?
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o autismo ou Transtorno do Espectro Autista (TEA) ― o nome técnico da condição ― atinge 1 a cada 160 crianças em todo o mundo. Assim, é considerado um transtorno de neurodesenvolvimento comum.
Porém, não há respostas exatas de especialistas em relação às causas do TEA. O que existe são possíveis motivos que levam à condição, e são mencionados no Abril Azul. Até porque, os transtornos neurológicos costumam ser difíceis de compreender, mesmo com muitos anos de estudo.
Na década de 1980, por exemplo, acreditava-se que o autismo era um distúrbio adquirido majoritariamente por influência do ambiente. Hoje em dia, porém, os especialistas associam o TEA a fatores genéticos em 80% a 90% dos casos da condição.
Ou seja, a herança genética é o que, provavelmente, tem o papel mais importante no desenvolvimento do autismo. No entanto, várias outras possíveis causas de TEA surgiram ao longo das últimas décadas para ajudar a explicá-lo melhor, como, por exemplo:
- anormalidade nos cromossomos;
- mutações em múltiplos genes;
- alterações de sinapses na fase de desenvolvimento embrionário da pessoa.
E os sintomas?
O Transtorno do Espectro Autista é caracterizado essencialmente pela dificuldade para se comunicar e interagir socialmente. Assim como, por comportamentos repetitivos e hipersensibilidade. Logo abaixo, explicamos com mais detalhes esses sintomas, que compõem as informações transmitidas no Abril Azul. Confira!
Problemas comunicativos
Um dos sinais que indicam que determinada pessoa tem TEA são os problemas comunicativos. Crianças com autismo possuem dificuldades para falar corretamente, usar palavras no sentido e contextos certos, e expressar pensamentos e sentimentos.
Dificuldade em interações sociais
Em função das dificuldades de comunicação, pessoas com autismo enfrentam grandes obstáculos para interagir socialmente. Elas não conseguem manter o contato visual enquanto conversam, não gostam de toques físicos e preferem ficar sozinhas, por exemplo.
Comportamentos repetitivos
Geralmente, crianças com autismo apresentam comportamentos diferentes em relação às outras da mesma faixa etária. Na maioria das vezes, são ações repetitivas, a exemplo de ficar parado com olhar fixo, executar movimentos iguais constantemente ou dizer a mesma coisa várias vezes.
Hipersensibilidade
Outro sintoma comum de quem tem autismo é a hipersensibilidade. A pessoa fica sensível demais a estímulos externos, como som e luzes. Dependendo da quantidade e força dos estímulos, a criança chega a entrar em crise. Um exemplo seria a exposição a som e luzes de fogos de artifício.
O problema é que, os sintomas do autismo são relativamente sutis. Logo, é comum que os familiares não suspeitem imediatamente sobre o transtorno da criança. Sobretudo, em casos de TEA de primeiro grau. Sim, a condição é classificada por diferentes fases. São três especificamente:
- leve;
- intermediário;
- grave.
Assim, o ideal é buscar ajuda profissional para confirmar o diagnóstico e o grau de avanço da condição. Cada fase do TEA diz respeito à variação e intensidade dos sintomas. Obviamente, o grave é o grau mais difícil de lidar. Então, quanto antes o autismo for descoberto, melhor será para tratá-lo.
Como funciona o diagnóstico do autismo?
O autismo pode ser identificado nos anos iniciais de vida da criança. Entretanto, o diagnóstico só pode ser feito com quatro ou cinco anos de idade. Para fazê-lo, os profissionais usam alguns testes específicos que ajudam não só a confirmar a presença do transtorno, mas mostrar seu grau de avanço. Entre eles, estão:
M-CHAT
O M-CHAT é um teste feito por especialistas em crianças de 15 a 30 meses de idade com suspeita de autismo. Ele consiste em um questionário preenchido pelos responsáveis que avalia o desenvolvimento da criança em áreas associadas à condição, como comunicação, interação social e comportamento repetitivo.
STAT
Por sua vez, o STAT é um instrumento de triagem usado para ajudar no diagnóstico precoce do autismo em crianças entre 24 e 36 meses de idade. É uma avaliação clínica que envolve a observação direta do comportamento da criança em diversas áreas e pode indicar a necessidade de uma análise aprofundada.
ADOS-2
Por fim, o ADOS-2 é um teste clínico padronizado que pode ser feito desde os 12 meses de vida até a fase adulta. Trata-se de um conjunto de tarefas estruturadas que incentivam a interação entre o especialista e a pessoa para tornar o diagnóstico mais preciso.
Importante: uma das principais pautas do Abril Azul é a necessidade do diagnóstico prococe do autismo. Isso porque, quanto mais cedo for a descoberta da condição, mais efetivo será o tratamento. Com isso, além dos testes para identificar o TEA, também há esse alerta ao longo da campanha.
Tratamentos disponíveis para o autismo
O autismo ainda não tem cura. Então, o Abril Azul informa que os tratamentos servem para aliviar significativamente os sintomas e melhorar a vida das pessoas com o transtorno neurológico. Entre as abordagens mais comuns usadas pelos profissionais, destacamos:
Fonoaudiologia
A fonoaudiologia é uma das abordagens terapêuticas mais comuns utilizadas no tratamento do autismo. Ela trabalha em questões ligadas à comunicação das pessoas com TEA, a exemplo de fala, compreensão da linguagem e habilidades sociais.
Os especialistas avaliam a capacidade comunicativa da pessoa com autismo e desenvolvem um plano de tratamento individualizado para atender às suas necessidades específicas. O tratamento conta com uma variedade de atividades e técnicas, incluindo:
- exercícios de articulação;
- treinamento auditivo;
- jogos de conversação.
Terapia ocupacional
Além da fonoaudiologia, a terapia ocupacional também é uma abordagem comum no tratamento do autismo. Neste caso, os profissionais trabalham para ajudar pessoas com TEA a desenvolver habilidades motoras finas e grossas, melhorar sua coordenação e aumentar sua capacidade de equilíbrio diante de estímulos sensoriais.
Análise Aplicada do Comportamento (ABA)
A Applied Behavior Analysis (ABA) ou Análise Aplicada do Comportamento, na tradução em português, é um tipo de terapia comportamental que busca amenizar a prática de ações nocivas e estimular a execução de hábitos benéficos à saúde em geral.
No autismo, o ABA é considerado como uma das formas mais comuns e efetivas de tratá-lo. Basicamente, o terapeuta de ABA faz uma avaliação detalhada das necessidades da pessoa com TEA e desenvolve uma abordagem individualizada para melhorar seu comportamento.
Medicamentos
Atualmente, não existe nenhum medicamento específico aprovado para tratar os sintomas centrais do TEA. No entanto, há medicamentos que podem ser prescritos pelos profissionais para tratar alguns dos sintomas associados à condição, como:
- comportamentos repetitivos;
- agressividade;
- hiperatividade;
- inquietação;
- ansiedade;
- dificuldade para dormir.
Luto do autismo: como lidar?
Nas pautas do Abril Azul, também está o luto. Quando confirmado, o diagnóstico de TEA na criança costuma ser devastador para os pais. Assim que recebem a notícia que vão ter um bebê, os pais idealizam o filho. Pensam sobre suas características visuais, personalidade e futuro, por exemplo.
Então, ao receberem o diagnóstico de autismo, acontece uma quebra de expectativas que, por sua vez, gera vários sentimentos nos pais, como tristeza, medo e até mesmo frustração. Em função disso, a confirmação do TEA na criança é um processo de luto a ser enfrentado pelos pais.
Para quem não sabe, luto não ocorre apenas quando alguém morre, mas em toda e qualquer situação que causa uma perda significativa. Ou seja, o conceito é mais amplo do que o senso comum acredita. Com isso, envolve a dor causada por situações como a descoberta do autismo.
Além da frustração, os pais de crianças com autismo precisam encarar uma série de desafios, incluindo: dificuldade em cuidar da criança, preconceito de familiares e conhecidos, desgaste emocional e financeiro, casamento e vida social indo de mal a pior, dentre outros.
Neste contexto, é um cenário extremamente difícil para os pais suportarem. Até porque, a maioria não está preparada para lidar com algo assim. Em alguns casos, os pais acumulam tantos sentimentos negativos dentro de si que chegam a desenvolver quadros de depressão, por exemplo.
Portanto, desde o momento da confirmação do diagnóstico, é importante que a dor dos pais seja acolhida. Para isso, a rede de apoio de quem está passando por esse luto faz toda a diferença. Família, amigos e profissionais são capazes de tornar o fardo dos pais mais leve, ajudando-os a vivenciar cada fase do luto.
Conclusão
Sem dúvidas, o Abril Azul cumpre um papel muito importante na difusão de informações sobre o autismo na sociedade. Durante a campanha, várias atividades são feitas em prol das principais pautas do TEA, como explicação da condição, necessidade de inclusão e o processo de luto dos pais.
Além disso, o movimento incentiva o diagnóstico precoce, a intervenção terapêutica, o acesso a tratamentos multidisciplinares e a criação de políticas públicas para melhorar a vida dos autistas. Então, participe do Abril Azul também, ajudando a espalhar informações que conscientizem todos sobre a causa.
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