4 min • 06/03/2023
Quando falamos em luto, a associação mais comum é pensar na despedida de um ente querido e tudo que a envolve. Porém, o luto não se refere apenas a isso. O conceito também compreende outras várias perdas significativas enfrentadas pelas pessoas ao longo da vida.
Existem perdas concretas, como a morte, mas existem também as perdas simbólicas que são como mortes simbólicas em vida, como, por exemplo, a quebra de expectativas, término de relacionamentos afetivos, diagnóstico de alguma doença, a chegada da menopausa, a solidão depois da aposentadoria… Daí a razão de tantas reações comuns de luto se expressarem diante destas situações, incluindo:
- raiva;
- tristeza;
- confusão;
- culpa.
Independente da causa, é necessário que haja uma validação da perda. Que haja um reconhecimento de que algo foi perdido e de que existe uma razão para um sofrimento. Diante deste reconhecimento, também é importante que o próprio enlutado se permita sentir para então elaborar. Não há como elaborar algo que nem foi reconhecido como existente. Não há como elaborar algo que ainda está sendo negado.
Os lutos mais comuns enfrentados ao longo da vida
A vida proporciona muitos outros lutos além da morte. Do mesmo modo que acontece no adeus a alguém próximo, há situações comuns da vida capazes de desestabilizar uma pessoa por completo. Então, também devem ser encaradas como luto. Entre elas, destacamos:
Quebra de expectativas
A decepção é um dos lutos mais comuns enfrentados pelas pessoas ao longo da vida. Ela acontece em função da quebra de expectativa depositada sobre algo ou alguém, a exemplo de quando uma pessoa descobre que não foi criada por pais biológicos ou foi demitida inesperadamente, sem um motivo justo.
A expectativa frustrada resulta em uma série de sentimentos negativos por parte da pessoa traída. Desde raiva intensa, até tristeza profunda. Em alguns casos, o inconformismo é tanto que o indivíduo pode passar anos sofrendo por conta da deslealdade de outrem.
Término de relacionamentos afetivos
O luto também acontece frequentemente com o término de relacionamentos afetivos. Por conta da intensidade do elo entre o casal, essa ruptura costuma ser altamente dolorida. Sobretudo, àquele que, por algum motivo, não concorda com o fim da relação.
A dor e o vazio inerentes à separação podem levar não só sentimentos nocivos à estabilidade mental e emocional da pessoa, mas também a levam a comportamentos de fuga da realidade.
O abuso de substâncias e/ou álcool, ou aderir a rotinas exaustivas de trabalho, pode ser o recurso utilizado por algumas pessoas numa tentativa de evitar o contato com a dor. No entanto, se não for encontrada outra forma de lidar com a situação, a longo prazo o que pode acontecer é que este luto reprimido se torne um luto adiado ou até prolongado, que são casos de complicações de luto pela impossibilidade de elaboração.
Diagnóstico de doença
O diagnóstico de uma doença pode ser uma das mais impactantes situações de perda para uma pessoa. O paciente experimenta o luto não apenas por conta de sua atual condição de saúde, mas em certa medida o que se perde pode ser a identidade que a pessoa tinha de ser alguém forte e saudável, além de diversas outras perdas secundárias que vêm como consequência desse adoecimento. Adaptações que precisarão ser feitas, planos adiados, rotina alterada por exames e tratamentos médicos, entre outros.
Neste caso, o luto pode causar emoções intensas como raiva, tristeza e medo. É comum que o paciente também apresente sinais de desespero e confusão, além de dificuldade para aceitar essa nova realidade. Isso porque, sente que perdeu controle em relação à própria vida.
Solidão da velhice
A terceira idade é uma fase da vida que envolve uma série de perdas e desafios, como, por exemplo, o luto pela capacidades físicas que diminuem (visão, audição, memória, mobilidade), pela perda da juventude, perda de status dentro de uma sociedade que desvaloriza o idoso, perdas financeiras…
Além disso, o luto dos idosos pode ser causado pela solidão. Mudanças na saúde comuns da terceira idade são capazes de limitar as atividades sociais, impedindo-os de sair de casa. Sem contar que, a despedida de entes queridos quando idoso, a exemplo de cônjuge costuma ser bastante dolorida.
No fim, é importante lembrar que quando se chega nessa fase, também se adquirem coisas importantes como a experiência, a sabedoria e a compreensão da vida.
Quais são os mais difíceis de lidar?
Além dos lutos mais comuns de acontecer ao longo da vida, há momentos que podem ser ainda mais difíceis de lidar. Perdas ambíguas, isto é, quando não está claro o que se perdeu, são um exemplo disso. Isso porque, a pessoa não reconhece plenamente o que aconteceu.
Em casos de lutos por adoecimento de familiar, como demência de Alzheimer, o parente continua vivo, mas tem-se a impressão de que já não está mais ali. A condição o faz esquecer de tudo e todos. Com isso, a perda não é tão clara àqueles mais próximos do paciente.
Assim também, lutos não validados socialmente são mais complicados de enfrentar. Especialmente, por conta da impossibilidade de vivenciar a perda adequadamente. São os casos em que a vida social pressiona a pessoa a fingir que está tudo bem. Entre os complicadores do luto”, também estão:
- Lutos quando não existe corpo a exemplo de desaparecimentos;
- perdas consecutivas ou múltiplas em que não houve tempo para se elaborar uma perda antes que outra acontecesse;
- pessoas com fragilidade emocional e histórico de doenças mentais frente a uma perda.
Como elaborar os diferentes lutos da vida?
Ao contrário do que muitos pensam, o luto não é um obstáculo a ser superado pelas pessoas que o enfrentam. Ele deve ser elaborado e integrado à vida. Isso quer dizer que você deve vivenciar todas as etapas que envolvem a perda de algo significativo.
Negar ou reprimir os sentimentos dizendo que “está tudo bem”, não é o melhor caminho para lidar com a perda de uma oportunidade de emprego ou o fim do casamento. É necessário reconhecer e aceitar o processo de luto. O que não é um caminho fácil, mas em compensação, ajuda muito mais.
De fato, a dor em momentos como esses é inevitável. Porém, a condição de sofrimento ainda é opcional. Você pode aprender a conviver, carregando os sentimentos do luto ao mesmo tempo que consegue olhar para frente.
Em outras palavras, o processo de luto é saudável quando existe movimento apesar da dor. Quando você faz as atividades rotineiras, encontra prazer na vida e elabora planos para o futuro mesmo com a dor, tristeza e saudade presente no seu coração.
Para isso, a rede de apoio de quem está passando por momentos assim cumpre um papel muito importante. A família, amigos e igreja, por exemplo, podem ser pilares de sustentação para você continuar a viver e expressar sua dor quando precisar.
Inclusive, nas primeiras semanas ou meses você pode oscilar bastante entre os sentimentos essenciais da perda e a necessidade de restauração. Desse modo, o ambiente de acolhimento proporcionado pelas pessoas que estão ao seu redor faz toda a diferença.
Conclusão
Por fim, o luto precisa ser vivenciado. Seja referente à despedida de um ente querido, seja em relação a situações, como quebra de expectativas, término de relacionamentos afetivos ou diagnóstico de uma doença. Apesar da dor, todas as etapas da perda precisam ser abraçadas para que você fique bem.
Além de encontrar forças na sua rede de apoio, busque pela ajuda de profissionais qualificados para lidar com o luto. Os especialistas vão orientá-lo da melhor forma possível sobre como proceder em momentos tão difíceis e dolorosos quanto esses.
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